Contagem para a Chrise
04 – Lara Croft
A vida, como a antiga Tebas, tem cem portas.
- Acho que cheguei ao templo, Carl - diz a bela arqueóloga Lara Croft, falando via comunicador com seu guia da atual expedição - As coordenadas do GPS conferem...é estranho, o lugar parece diferente do que o prof. Jones descreveu.
- Na idade em que ele está, gata, a memória não é exatamente muito confiável - responde Carl, a seis quilômetros de distância - Seja como for, acha que a Coroa da Serpente está aí?
- Só tem um jeito de saber - responde Lara, subindo a escadaria que leva à entrada do templo.
- Tudo bem até agora?
- Até agora, os "espíritos malignos" não deram as caras - diz Lara, subindo o último degrau e entrando no palácio.
- Que continuem assim.
- Carl, você tem um mapa deste lugar?
- De acordo com o velho Jones, nem vamos precisar. Ele disse que a Coroa está no final de um grande corredor após a porta com o símbolo de Rac, o deus Sol.
- Dessa parte eu lembro - diz Lara, olhando para a sala à sua frente. - Mas em QUAL delas?
- Como assim, em qual delas?
- Carl, deve ter umas vinte portas aqui com o mesmo símbolo!
- Vinte portas?!... - repete Carl, surpreso.
- OK, sem pânico - aconselha Lara, após respirar fundo. - A maioria destas câmaras deve se interligar. Vai demorar um bocado, mas...
- Lara, cê não vai...
- Checar uma por uma? Por que não? - provoca a exploradora. - Se bem que em horas como esta eu lamento trabalhar sozinha. Agora vamos ver...por qual câmara devo começar? - escolhendo uma das câmaras ao acaso, Lara empurra a porta o suficiente para passar por ela - Estou passando pela porta... - subitamente, o mundo à volta de Lara parece feito de doce de leite. Quando as coisas se normalizam, ela está no grande salão central de um castelo na Europa oriental, onde um grupo de engravatados conversam nervosos com um homem numa sinistra armadura.
- Reafirmamos, presidente Doom, a derrota de Richards e sua equipe é apenas uma questão de...
"Oh-oh", pensa Lara. "Algo me diz que eles não estão falando de basquete."
- Há um espião nesta sala - diz o homem de armadura, e sua voz soa áspera e cruel.
- ELIMINEM A INVASORA!!!!
O líder da mesa apenas aciona um mecanismo próximo de sua mão, e robôs surgem de portas secretas à volta de Lara. Rapidamente a bela aventureira saca duas pistolas dos coldres presos a suas coxas e, ao mesmotempo em que salta para um canto protegido do salão, começa a atirar contra os autômatos.
- Não sei quem é você, "sr. presidente"...e acredite, eu me lembraria de um chefe de estado vestido de Darth Vader...mas eu vim até aqui procurando uma coisa, e não espere que eu saia daqui sem ela - andando de costas sem perceber, Lara chega perto da porta, e a atravessa. Desta vez, porém, a transição é mais suave, e sem perceber a aventureira volta ao templo de onde saíra.
- Lara? Como você está? - indaga Carl, em tom preocupado - Seu comunicador passou os últimos dez minutos transmitindo discussões sem sentido em português.
- Acabei de voltar de..algum lugar estranho...mas estou bem - tranquiliza a arqueóloga - Alguma coisa relevante nessas tais transmissões?
- Depende. A frase "Eu vô" te diz alguma coisa?
- Não.
- Pra mim também não - replica Carl - Quer tentar outra câmara?
- Vou torcer só para não voltar para o mesmo lugar - comenta Lara, caminhando por um corredor de pedra rumo à porta seguinte. Após empurrar a porta de pedra, Lara entra por ela...e se surpreende ao chegar a uma praia.
"Uma praia? Como um templo inca pode levar ter uma porta para uma praia...e esta praia parecer tão contemporânea?"
- Iaews mina!!! - diz um curioso surfista, que paradoxalmente parece pouco habituado à água - Tá a fim de tocar uns agogô, lavar as escadaria do sr. Bonfim?...
- Quem é você?!
- Meu nome é Peterson Foca. Peterson por parte de pai, e Foca de zoeira dos maluco - logo depois de se apresentar, Peterson Foca e a praia à sua volta desaparecem, dando lugar a uma luxuosa mansão vitoriana. Numa grande sala decorada com itens de todo o mundo, dois homens conversam acomodados em confortáveis poltornas.
- Ao contrário do que possa aparentar, senhor Wayne, não estou insinuando que sejas o Bat-Man - diz um deles, com sotaque inglês carregado, por trás de seus óculos e um grande bigode grisalho - Mas tens de concordar comigo que há certo número de...coincidências apontando em tua direção.
- Garanto que não são além de coincidências, comissário MacGordon - responde o outro homem, como se tais afirmações parecessem absurdas - Além do mais, a amada imprensa de nosso país adora alimentar os boatos mais bizarros, não?
Sem que sua presença seja percebida (ou, pelo menos, sem que se dê sinais de que isso tenha acontecido), Lara deixa o recinto pela mesma porta por onde chegou a ele, voltando ao templo.
- Carl, pode me ouvir? Carl?
- Capichi Pizzas, boa noite? - diz uma voz feminina, convenientemente ignorando o que Lara dissera.
- Carl?
- Desculpe, moça...número errado - responde a voz feminina, interrompendo a ligação.
- Espere! Eu preciso falar com Carl! Alô! Alô!
- Imagino que você também não seja deste lugar - deduz um homem de óculos, vestido num longo sobretudo.
- Quem...?
- Meu nome é Morrow - apresenta-se o tal homem - Sou um...físico, e assim como você estou perdido aqui. Venho estudando estas interferências desde que começaram - anuncia o cientista, apontando para uma porta no final de um corredor lateral. - Calculo que aquela porta vá levá-la de volta ao templo de onde você saiu.
"O que pode acontecer de pior?", pensa Lara, imaginando agradecer a Morrow mas vendo-o desaparecer antes de ter esta chance. A arqueóloga corre pelos corredores até chegar à porta com uma arma engatilhada, imaginado que se trate de uma armadilha. Passando pela porta, Lara se surpreende ao encontrar-se num estúdio de TV, vendo uma estranha banda tocando uma música que não parece ter sido composta neste planeta. Tão logo o curioso conjunto encerra sua apresentação, ouve-se uma voz que anuncia:
- Live from the Studio 60 on the Sunset Strip, it's Friday night in Hollywood!
"Quando defino o que não entendo, eu me aproximo da poesia. E então, a poesia parece mais próxima da vida do que se imagina." (Antônio Abujamra)
A seguir: conspiração além da vida!
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