#4 – A Flecha
“Antes que você possa falar algo sobre o Projeto Titã, devo deixar algo claro:
O Projeto Titã não existe.
Qualquer coisa que for dita sobre o Projeto Titã é mentira, dado o fato de que o Projeto Titã não existe.
Qualquer pessoa relacionada ao Projeto Titã não existe oficialmente, assim como o projeto.
Você está pronto?”
**
Ele caminha, vestido elegantemente, pelo corredor com carpete de madeira e pilastras de mármore de sua casa, construída com muito esforço e dedicação. Não dele, claro.
Ele caminha já imaginando o que poderá encontrar. Graças a um telefonema de uma fonte confiável, sabe o que estaria acontecendo no quarto.
Mesmo assim ele entra, para confirmar que sua mulher tem um amante, e que os dois estão fazendo sexo naquele momento. Ela, com as mãos no travesseiro, o apertando firme, de costas para a porta, nem vê quando seu marido entra. Ao contrário do amante, que está de joelhos e nota instantaneamente quando a arma é sacada e a bala, disparada. Seu corpo sem vida cai sobre as costas da mulher, que então nota que há algo errado. Ela vira e vê o marido com a arma. Grita.
Duas vidas se acabam neste dia.
**
- Filho, a mamãe era uma pecadora e o Diabo a levou para junto dele, para o Inferno.
- S-Sério?
- Sim.
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E o pai não se preocupou mais com o filho, pois sempre pagou para que ele tivesse a melhor educação.
Isto não impediu o menino de ver os corpos serem retirados do quarto.
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E a vida continuou, com as aulas de artes marciais, e pintura, e arco-e-flecha, e matemática. E o menino continuou sendo educado para ser um bom representante da classe alta. Mas aquela não era mais sua vida desde o dia em que viu sua mãe com um buraco na testa.
Não dava para viver assim.
**
- Puf, puf.
Em uma certa noite, ele pega algumas roupas e coloca em uma pequena mochila, além de alguns outros itens que achou necessário depois do que viveu em um acampamento de verão.
Ele pula a janela e, com a agilidade de seus treinamentos, foge de casa facilmente, burlando os sistemas de segurança.
**
Na rua, tudo é sombrio, feio, sujo e ameaçador. Mas ele não se contém.
Uma menina se aproxima da fogueira.
- Oi.
- Oi.
- Qual o seu nome?
Silêncio.
- Qual o SEU nome?
- Jade. Jade Nguyen.
- De onde você é?
- Sou do Vietnã.
- Ah... Quer se aquecer aqui?
- Posso?
O menino a abraça, e o fogo os mantém aquecidos. E vivos.
Os dois começam então uma união baseada em um sentimento de compaixão, empatia e, quem sabe, amor. Mas eles ainda não sabem o que seria amor. Sabem o que é vontade de sobreviver.
**
Manhã fria.
Os dois ainda adormecem, escondidos entre papelão e isopor, como uma casa onde buscavam sobreviver. Ela disse tudo que sabia sobre sua vida. Sobre como seu pai, um francês, largou sua mãe no Vietnã quando soube que ela estava grávida. Sobre uma vida triste até que as duas conseguiram fugir para a Inglaterra.
Ele nunca falou sobre sua vida.
Subitamente, alguém puxa Jade, e o menino acorda assutado. São três homens que levam Jade, e suportam sua revolta.
- Vamos! Essa deve dar!
Um dos homens segura Jade pela cabeça.
- Bonitinha essa... O chefe vai gostar do material!
- Leva! Leva!
Dois correm com Jade, e o terceiro os seguia até sucumbir. Os outros dois nem notam que ele morrera com uma flechada na nuca. O menino os segue mas eles entram em um carro.
Jade se foi.
**
- O que aconteceu depois foi que eu cresci. Não tem jeito, caramba. Comecei a trabalhar pra quem vende e acabei viciando nessa merda dos infernos chamada heroína. Queria que acontecesse o que?
- Você quer sair desta vida?
- Eu quero qualquer vida melhor que a que eu tenho, cara. Melhor que os miolos da minha mãe pelo lençol, ou que a única pessoa boa de verdade que conheci sendo levada pra ser estuprada por idiotas de meia-idade.
- Você estaria pronto para mudar?
- Sempre!
- Você está pronto, Ronald Harper Jr, para o Projeto Titã?
- Quando começo?
quinta-feira, 4 de junho de 2009
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